Thursday, 12 June 2008

Namorar.

Namorar. Hoje se faz muito pouco isso. Mas ainda há esperanças. Muito embora se espere bem mais pelas caixas coloridas das lojas de griffe do que pelo toque incomparável das mãos de quem se ama. Quase já não sobe a temperatura quando as peles se encontram. Quase não há romance. Hoje o negócio é correr atrás de dinheiro. Corre-se muito pouco em busca de quem se gosta. Amor virtual, internético, com papo de MSN.

O sucesso tomou o lugar do par ideal. Hoje os encontros são em busca do melhor negócio. Fazem-se contas das contas bancárias. Mede-se patrimônio e não sentimentos. Eu lamento informar. Tem sido assim. Mas como eu disse, tem jeito. A solução está em desfragmentar o hard disk de sua alma. Dar-se licença de ser um pouco ridículo, de pegar-se chorando por uma mulher, de ter na memória o sabor daquele beijo, sentir aquele friozinho que desce pela espinha dos que gostam. Isso sim é se dar bem. Isso é estar no topo do mundo. Porque afinal, todas as coisas que lhe fazem realmente feliz são as menos pretensiosas, pode acreditar. O resto é marketing.

Sem apologia da mediocridade, nada substitui um dia na praia caminhando pela beira-mar e conversando água de coco ou sentar num banco de praça vendo as folhas do outono cair na companhia inseparável de quem escolhemos para partilhar nossos dias e noites. Coisa alguma pode superar o perfume que toma outras nuances quando repousa no corpo que se quer possuir. Nenhuma emoção pode traduzir a música que marcou aquele momento único. Quando se entende isso se percebe que a vida é feita de memória. Um grande arquivo de imagens, sentidos e frases que ficam perpetuados até que nos dissipemos desse lugar. E mesmo depois daqui carregamos o que vivemos e deixamos o que sentimos para que outros continuem a nossa caminhada.

Num mundo em que a marca é mais importante que a pessoa, o diferencial está no amor. Sem pieguice de qualquer espécie, aconselho-o a experimentar as coisas mais simples, porque não há nada mais sofisticado que a simplicidade. Viva a luz do entardecer, viva o sorriso, o afago, a tatuagem, a pele, os olhos que falam, o coração que salta, o arrepio que brota. Viva o fôlego que falta, a voz que aquece, o beijo que detona. Solte as amarras desse mundo fake e viva o mundo de verdade. O mundo dos que sonham, dos que dizem, dos que pensam, dos que tocam, dos que se aprofundam, dos que tem coragem de ir até o fim, dos que não se reservam, dos que são sem medida, dos que não se reprimem. Viva o mundo daqueles que confessam uma paixão. Porque um abraço diz mais que todos os presentes e um poema é mais forte que qualquer etiqueta.