Monday 22 October 2007

Fortaleza que se desfaz.

Como esculturas de areia, às vezes, quando caminho por nossa cidade, tenho a sensação de que ela está sendo desfeita. Puro antagonismo. De um lado vejo a Fortaleza que está sendo feita, desafiadora, prédios majestosos, shoppings, avenidas imensas, mas do outro lado diviso uma, linda, imponente, poética, que está se desmanchando. Uma Fortaleza de casario com estilos os mais diversos, fachadas rebuscadas de tempos que não voltam mais, mas que poderiam ser preservados e mantidos em nome da memória da urbe e principalmente, para que pudéssemos ter as referências de nossas infâncias, tão importantes na formação de pessoas melhores e mais felizes.

Dia desses passei defronte ao Centro de Artesanato Luíza Távora. Parei. Fiquei olhando na tentativa de transmutar o que via para os dias em que ali repousava o Palácio Pierina. Construção única, encomendada pelo empresário Plácido de Carvalho para presentear a sua mulher, tradução de um amor que ficou eternizado naquela obra inenarrável. A foto que estou publicando pode falar melhor por mim. Nos seus jardins, eu e meus irmãos chegamos a passear e brincar. Para nossa tristeza o palácio foi impiedosamente demolido.

Depois da morte de Plácido, Pierina pede ao arquiteto húngaro – com brilhante trajetória em nossa cidade - Emilio Hinko que construa ao redor do palácio casas para aluguel, que ainda teimam em estar ali. Derradeiras testemunhas do que foi aquele espaço um dia. Dois dos palacetes que são voltados para Avenida Santos Dumont são claramente lombardos. Os outros quatro vão do romano ao genovês revisitado, influência arquitetônica da costa azul italiana.

Sobre Hinko e sua inestimável obra falarei mais outro dia.

Mas como toda história que se perpetua tem romance em suas linhas, deixo aqui registrado que Emilio Hinko e Pierina acabaram por se apaixonar e casaram. Parece novela. Mas não é. É a puríssima verdade de uma Fortaleza de que temos imensa saudade.