Quis começar um ano diferente. Despojado de excessos, asséptico, limpo em minha essência, em silêncio voluntário, quase sacro, como uma igreja vazia até de mim. Quis romper uma fita reinaugurando a vida. Reiniciando do começo, engatinhando a alma para me ver crescer melhor, com mais temperança e menos gula. Com mais serenidade e menos ânsia. Sem aqueles atropelos que servem de desculpas para errar tanto. Quis começar um ano num longo banho de água corrente, deixando escorrer as mágoas que porventura tenham teimado em ficar, deixando ir-se até a derradeira gota de rancor e de insatisfação com o que passou.
Ser como criança, desassombrada, que balança solta, sem quedas na mente, sem pruridos tolos, com aquela inocência que brota dos olhos com especial fulgor. Quero ter a alegria insensata dos carrinhos pequeninos, das fantasias e sonhos sem fim, do rever o que importa e que foi sendo deixado pelo caminho. Pois o que vale mesmo dessa lida é poder ter dentro de si a esperança de um grande reencontro, quando todos nós estaremos em volta de uma mesa, no banquete divino que celebra a liberdade, a ternura e o para sempre. Afinal, deve se saber que o que vale não é a chegada, mas o caminho que percorremos até aqui.
Quis passar a página, cessar o capítulo, fechar o livro do passado e abrir as páginas do futuro, com aquele cheirinho característico de coisa nova, sem bolor, ou poeira fina que esconde o brilho. Foi assim que quis fazer.
Resolvi que nos dias que virão, por todos os possíveis, tentarei ir tirando as vestes sombrias, me despindo daquilo que me traz sofrimento, tentando por os pés nus no chão, sem reservas, sem aqueles melindres dos cuidadosos ao extremo. Quero trajar estampados, floridos, jardins cem por cento algodão. Quero me aventurar mais, brincar na neve, correr nos campos, pegar as alfazemas nas mãos, perfumar minha varanda, abrir-me para o espaço, desmedidamente, como que me atirasse inteiro na luz. É assim que quero ser.
Resolvi que nos dias que virão, por todos os possíveis, tentarei ir tirando as vestes sombrias, me despindo daquilo que me traz sofrimento, tentando por os pés nus no chão, sem reservas, sem aqueles melindres dos cuidadosos ao extremo. Quero trajar estampados, floridos, jardins cem por cento algodão. Quero me aventurar mais, brincar na neve, correr nos campos, pegar as alfazemas nas mãos, perfumar minha varanda, abrir-me para o espaço, desmedidamente, como que me atirasse inteiro na luz. É assim que quero ser.
Quero sentir a brisa de olhos fechados, deixar cair a chuva percebendo o cheiro de mato encharcado, quero olhar para o céu estrelado, constelações inteiras para ofertar a quem amo de verdade. Com o espírito repleto de meninices que o tempo me fez esquecer e que ficaram guardadas nos escaninhos de minha existência. Quero estar pleno, para poder dividir. Obstinado para poder somar. Sábio para poder multiplicar. Compreensivo para poder subtrair. Fazer as quatro operações dessa matemática inventiva e simples que a vida nos ensina e que, arredios, muitas vezes não queremos aprender. Pois de que é feita essa passagem senão de diversos minutos que podem se eternizar pelo sentimento, por aquilo que vai em nosso coração? De que é feita essa vida senão de amores sem fim, paixões enlouquecidas, sorrisos fartos, abraços apertados de bem querer, mãos estendidas para pegar o outro no ar, fé inquebrantável, orações ao alto, palavras que afagam? É assim, decerto, que daqui adiante quero ser.
Ser como criança, desassombrada, que balança solta, sem quedas na mente, sem pruridos tolos, com aquela inocência que brota dos olhos com especial fulgor. Quero ter a alegria insensata dos carrinhos pequeninos, das fantasias e sonhos sem fim, do rever o que importa e que foi sendo deixado pelo caminho. Pois o que vale mesmo dessa lida é poder ter dentro de si a esperança de um grande reencontro, quando todos nós estaremos em volta de uma mesa, no banquete divino que celebra a liberdade, a ternura e o para sempre. Afinal, deve se saber que o que vale não é a chegada, mas o caminho que percorremos até aqui.