Sunday, 23 December 2007

Adeus Dom Aloísio...

Nada o intimidava, apesar do olhar sereno próprio daqueles homens que tem metade anjo em sua alma. Enfrentou ameaças de toda sorte, baionetas militares, lutou pelos direitos humanos, falou em nome daqueles que viviam o silêncio da opressão.

Um episódio é substancialmente emblemático na vida de Aloísio Leo Arlindo Lorscheider, Dom Aloísio para quem o viu passar por Fortaleza, de 1973 até 1995.

Lembro-me claramente que em março de 1994, o Cardeal foi vítima de um inominável ato de violência. Ele fazia uma de suas rotineiras visitas matutinas ao Instituto Penal Paulo Sarasate, em Fortaleza, onde assistia as condições em que viviam os detentos. Enquanto discursava no auditório insalubre, a luz apagou e uma repórter, Adriana Saboya, que acompanhava a visita, ouviu vozes na platéia. Tudo indicava que os presos estavam conspirando. Segundos depois, dois deles dominaram D. Aloísio e instauraram uma rebelião. Arrastado para debaixo de uma mesa, a primeira coisa que o Cardeal fez foi pedir aos rebelados que fosse o último refém a ser libertado. Pedido atendido, mas somente dezoito horas depois. Menos de um mês depois do episódio, lá estava de volta o bravo Cardeal, ao mesmo presídio, em condições semelhantes, desta vez para celebrar a cerimônia do lava-pés nos detentos. Esse era o Aloísio que conhecemos. Um bravo homem do Senhor.

Tive a grata e honrosa oportunidade de conviver com ele por algum tempo na Rádio O Povo, quando coordenava a FM daquele Sistema e o via proferindo a Ave Maria todos os finais de tarde, sempre com uma palavra de alento aos que mais precisavam, com um afago aos desvalidos. Foi o único brasileiro até os nossos dias a receber votos num conclave para escolher um papa, o que aconteceu em 1978, na eleição de João Paulo I, que votou em Dom Aloísio até o derradeiro escrutínio.

Hoje Dom Aloísio não está fisicamente entre nós. Partiu logo cedo, às cinco e meia da manhã. Mas a saudade que sentimos certamente será aplacada pela mensagem que deixou, afinal, um homem é sua obra e a de Dom Aloísio é das mais benévolas que podemos ter conhecido.