Em 19 de Dezembro de 1990, Rubem Braga nos deixava. Findava-se assim a vida de um dos maiores cronistas brasileiros. Rubem Braga, natural de Cachoeiro do Itapemirim (ES), tinha o dom de imortalizar o cotidiano. Conseguia, de maneira inigualável, transformar um texto jornalistico em crônica. Desde que surgiu para a literatura, na década de 30, o "Sabiá da Crônica", como o chamava Stanislaw Ponte Preta, encantou o leitor brasileiro. Retratando com limpidez o complexo cotidiano do país, Rubem Braga dava à crônica brasileira uma nova dimensão que somente os grandes escritores sabem dar: a universalidade. O último plano de Rubem, simples e perfeito como os que organizaram sua obra, seria colocado em prática dias após sua morte: a cremação em São Paulo. Certamente seus amigos lembraram-se de uma pequena crônica sua, chamada "Berço de mata-borrão", onde Rubem conta sua curiosa pesquisa atrás da melhor maneira de se fazer cremar. A bem-humorada crônica expõe o lado metódico e precavido do autor, que, dois dias antes de sua morte, reuniu os amigos na sua cobertura em Ipanema, Rio de Janeiro, no que todos entenderam como uma despedida. Sobre sua partida escreveu certa vez:
"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa: Eu sou lá de Cachoeiro..."